Terça-feira, 24 de Fevereiro de 2009

12-Uma passagem pelo Chioco

 O Coelho enviou-me do Canadá, onde se encontra, este episódio em que nos fala também das peripécias do São Marcos.  Muito me admira pois o São Marcos até é uma pessoa bastante discreta. Consegue perfeitamente passar "despercebido".

Muito obrigado Companheiro  pela tua contribuição para o Blog.

Cá ficamos á tua espera.

 

 

-A 7ª de Comandos não era uma companhia  qualquer. Era a minha Companhia e, como tal, diferente!

Sendo uma Companhia pequena, só tinha quatro grupos de combate, foi-nos cedido um grupo da 8ª CCMDS/MOÇ, caso contrário teríamos muito mais que palmilhar naquelas matas!

Tinhamos vários "castiços" na Companhia, e no 1º Grupo havia pelo menos dois que, com as suas piadas, minimizaram a dor de ter que passar aquele tempo todo de tropa.

Eram eles os Furriéis Simões (Kiko) e São Marcos Luis.

Pouco antes do 25 de Abril, numa intervenção em Tete, que deveria ser de dois meses, fomos "convidados" a ficar mais uns tempos  na zona. Não ajudou nada o nosso estado de espirito, mas não tinhamos outra alternativa senão obdecer.

Falava-se de uma nova  Nó Górdio, tudo em alerta, e o nosso grupo foi colocado na  Base Aérea de Tete, onde esperávamos ser heli-transportados para um sítio desconhecido. Quando finalmente o helicoptero Puma apareceu, muitas horas depois, foi-nos dada ordem de embarque. Uma vez lá dentro, o heli não obdece aos comandos e somos atirados para fora .  Depois de algum tempo, voltamos a embarcar e repetece-se a cena:   o héli não pega e tudo para a rua!

É chamado um técnico francês para resolver o problema, entretanto, começa a ficar tarde para descolar, e com uma tempestade a aproximar-se. ( Em Tete era vulgar isso acontecer).

Finalmente descolámos e voámos a razar na direcção do Chioco, onde chegámos depois de alguns sustos ao sobrevoar as montanhas debaixo de uma tempestade.

Pouco antes de partir para a operação, o grupo formou em frente á varanda do comandante por volta das 20H00, onde nos foi passado um sermão e música cantada por um oficial superior.

Com todo o grupo danado com a pouca sorte de ter de ir para o mato áquela hora e debaixo de chuva, pois a água caía a cântaros, ouvir aquele mal fardado falar, ainda que nos estivesse a elogiar, era um bom teste á nossa paciência!

Mal o sermão acabou e, enjoados com a situação, ouvimos a voz do Kiko atrás do grupo a cantar a canção de um dengoso brasileiro : "quando as crianças partirem de férias"....

Foi gargalhada geral, o que animou a malta e lá fomos rogando pragas por aquele mato fora....

A operação tinha recolha de helicóptero, o que não aconteceu mais uma vez, forçando-nos a uma grande caminhada de regresso, com as rações no fim.

Chegados ao Chioco, a primeira coisa que queriamos era comer, o que fizémos e, claro, com uma boa rega de cerveja.       Depois disto  fomos ao banho, onde o São Marcos, já com um "tiro na asa" , pois o moço quando comia e bebia não era para brincadeiras, se lembrou de ir para os chuveiros, todo nu, com a toalha ao pescoço, atravessando a parada com olhar fixo e a passo vacilante, tendo a pouca sorte do comandante o apanhar naqueles trajes e "passar-lhe" uma valente "caixa de charutos".     

É que havia senhoras naquele aquartelamento, mas que por acaso naquela altura se encontravam em Tete ,ás compras.

O regresso a Estima, onde a Companhia se encontrava estacionada, iria ser feito com o auxílio de uma avioneta bimotor, que nos esperava na pista com os motores a trabalhar.

Encontrava-me  junto á porta a orientar  o embarque da equipa, quando ouvi o Cabo Neto gritar com voz aflita ao São Marcos, que se aproximava do teco-teco, para ter atenção com a avioneta, pois, o azimute que trazia conduzia-o direitinho  á hélice de um dos motores!

A aflição era de tal ordem, que dei a volta por trás da mesma e dirigi-me ao São Marcos aos berros, pois este já se encontrava perigosamente perto da hélice, e dei-lhe um encontrão, ao que ele fez menção de responder, o que tornava as coisas mais perigosas, dada a força física que possuía.    

Aos gritos, fiz-lhe ver que o motor estava a trabalhar, e que a hélice o cortaria ás postas, fosse São Marcos ou não São Marcos.     

Afastou-se a barafustar mas dali até Estima tivémos de o aturar o tempo todo, pois não se conformava com a idéia de terem tirado os bancos da avioneta para poderem levar mais gente, sentados no chão, tal era a falta de consideração para connosco, comparando-nos com gado!

A sorte do piloto é que tinha os auscultadores nos ouvidos, não se deve ter apercebido, e, se ouviu, não se manifestou!

Por dramático que possa parecer, e houve drama, a maneira de ser, e de reagir do São Marcos, deu para rir, o que atenuou a gravidade da situação, fazendo desta intervenção uma das que nunca esquecerei.

 

 

 

(Entrega de armamento em Montepuez. O Coelho e eu)

 

 

(Formatura para o almoço. O 1º Cabo "CMD" Henrique Dombo comandava as operações, era da minha equipa, um bom militar)

publicado por 7ccmdsmoc às 20:54
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