Terça-feira, 24 de Fevereiro de 2009

11- Os galos cantantes...nocturnos.

 

(Parte do Mapa de Moçambique com o rio Messalo e a zona de acção da Operação assinalados).

 

 

-Em determinada "Operação", mais concretamente na sua 2ª fase, já que fomos substituir os militares que participaram na 1ª, tínhamos como missão principal  um golpe de mão a uma Base IN situada na zona dos montes N,Teco, na Província de Cabo Delgado.

O Agrupamento  1 era  constituído por:

 

-1º Grupo de Combate;

-3º Grupo de Combate;

-3  Equipas do 2º Grupo de Combate;

 

-Comandava o Agrupamento o Cap. Artª "CMD" António Marques Abrantes dos Santos, Comandante da 7ª CCMDS/MOÇ.

-No dia marcado para o início da operação, saimos do aldeamento da Mataca, e fomos transportados em várias "levas" de helicóptero, para o local onde também  seriam recolhidos os nossos camaradas que participaram na 1ª fase da dita  operação.

-Ali muito perto do local onde fomos largados logo nos deparámos com um trilho, que supostamente conduziria á Base.    Iniciámos então a progressão seguindo sempre perto do trilho até ao momento em que foi decidido fazer um pequeno "alto" para sacarmos de algumas coisas que levávamos nas mochilas, e almoçar.

-Como mandam as regras, durante o tempo em que estivémos parados para comer, duas equipas de combate, estratégicamente colocadas, emboscaram o trilho, não fossemos ter algum amargo de boca.

-Terminada a refeição, o que não demorou muito tempo, reiniciámos a progressão e, para nosso espanto, passados alguns minutos, demos de caras com uma pequena Base.

-Tomados de imediato os necessários procedimentos, a minha equipa e a do Fur. Simôes (Kiko), foram, pelo Comandante do Agrupamento, mandadas tomar posição, para assegurar a protecção da equipa que ia na frente.

-Mál tivémos tempo de nos organizar  quando surgiram duas rajadas de AK-47 (Kalaschnikov) que só por muita sorte não atingiram nenhum de nós.     O  Simões, que até é um rapaz assim para o "baixote."...mal teve tempo de se atirar para o chão, mas viu claramente os ramos de árvore a cairem á nossa volta resultantes dos tiros.

-Esta Base tinha sido muito recentemente abandonada  e os guerrilheiros que dispararam sobre nós estariam ainda a recolher algumas coisas.  Verificámos que foi abandonada á pressa  pela quantidade de coisas que ainda lá encontrámos. Tratava-se de um pequeno hospital ou destacamento sanitário, pois havia  alguns medicamentos e outros materiais de primeiros socorros.

-Refeitos deste contratempo, que não nos causou danos felizmente, iniciámos a perseguição aos elementos que nos flagelaram, que se dirigiram para o rio Messalo, atravessando-o para a outra margem.

-Aquela zona junto ao rio, onde nos encontrávamos, era quase "terra de ninguém", não falando já da outra margem que era considerada "zona libertada".  A margem direita pertencia ao Sector de Porto Amélia (Pemba) e a margem esquerda ao de Mueda.

-A chamada tropa "normal" não se aventurava para a margem esquerda do rio, e os do lado de Mueda também lá não chegavam,  pelo que os guerrilheiros se sentiam lá muito "á vontade", e julgo mesmo que pensavam que ali não seriam perturbados.

-Apercebemo-nos disso porque quando transpusémos o rio para o outro lado, na continuação da perseguição, e poucos metros tinhamos avançado naquela margem quando o Sold. "CMD" Henrique Sousa,  que era o homem que ia na frente, mandou para trás um passa-palavra e fez sinal, de que estava a ver os guerrilheiros.

-Imediatamente o Comandante deu instruções no sentido de os neutralizar. Na aproximação, tal era a convicção  que eles tinham de ali não serem perseguidos, que estavam em amena "cavaqueira" uns com os outros, descurando, quase por completo, as mais elementares regras de segurança.   Abrimos fogo e abatemos um elemento e ferido outro.

-A tarde já ia longa e havia que rápidamente sair dali e procurar um sitio seguro para dormir, e também porque, era quase certo, dali a pouco começaria a "chover morteirada".

-Por acaso não aconteceu, daquela vez!!!..

-Em África anoitece cedo mas amanhece cedo também.

-Cerca das 05H00 da manhã iniciámos a progressão daquele dia,  flanqueando o trilho , que do antecendente vinhamos seguindo.     Cerca das 06H15 sofremos uma emboscada que nos foi "preparada" por cerca de 20 elementos IN, que mais consequências  não teve de que, um cantil furado (o do Laice, salvo erro) um guarda mão de G-3 destruído e um carregador de munições também destruído, e isso sim poderia ter sido grave para o seu portador,  houve também pequenas escoriações em alguns de nós.  

-Percebemos então porque não nos flagelaram com "morteirada" no dia anterior.

-Continuou-se a progressão e um pouco mais á frente fomos novamente atacados, resultando desta vez ferimentos no Sold. "CMD"  Amilcar Pereira que teve de ser evacuado para Mueda.

-A progressão  continuava e a certa altura deparámo-nos com um trilho, bastante mais batido, que segundo os guias, conduziria á base.  Montando emboscadas neste trilho, ali permanecemos até ao anoitecer, para então iniciarmos a progressão em direcção á base.

-Caminhámos quase toda a noite e cerca das 05H00 chegámos ao nosso objectivo, que contudo havia sido também abandonado, talvez um ou dois dias antes.   Era uma base relativamente grande  e bem estruturada. Estava estratégicamente bem colocada e tinha condições para albergar um razoável número de guerrilheiros.

-No dia seguinte, aliás, na noite seguinte, seguimos ainda um outro trilho que nos conduziria a uma outra base.  Mas na aproximação aconteceu  o que eu considero o  caricato desta  Operação.    Ouvimos galos a cantar (que não é muito vulgar á noite),   e isso deu-nos uma grande ajuda na localização do objectivo .

Os bichos estavam eufóricos,não se calavam.

-Também aqui não encontrámos ninguém, mas  esta base foi abandonada, muito á pressa naquela noite, não havendo sequer tempo para recolher os galos cantantes.......

-Percebemos o motivo porque os galos não se calavam.  Foram "despertados" pela movimentação dos guerrilheiros  a  abandonar o local. 

-Foi esta operação de quatro dias muito fértil em contactos com o IN.  Mesmo quando estávamos á espera dos helicopteros para sermos recolhidos, fomos flagelados, uma vez mais sem grandes consequências mas que nos  fez  "abortar" a primeira aproximação aos hélios.

-Regressados a Montepuez, foi ali que fizémos o habitual "refrescamento" após cada intervenção, dessa vez não tivémos a sorte de irmos para a Ilha de Moçambique.

 

 

(Pequeno-alto para refeição, o Mota estava muito pensativo e eu entretinha-me a comer)

 

(

 

 

(Montagem de estacionamento  no  Distrito de Tete, á volta de uma "frondosa" árvore. Reparem no pormenor do militar com uma enxada ao ombro, mas com a G-3 pronta)

 

 

publicado por 7ccmdsmoc às 12:34
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3 comentários:
De jose correia lino a 9 de Junho de 2009 às 15:41
No meu tempo de instructor em Montepuez lembro-me do Silva de Porto Amelia , aquin presente em foto estando o gajo na mesma em relação á fisionomia, dizem que os Comandos com estirpe de malandros nunca se fazem velhos---dizem---Outro meu grande amigo o Inacio Jacob de Oliveira....do alferes deles já não recordo nome.

Um abraço a todos
jose correia lino


De 7ccmdsmoc a 16 de Junho de 2009 às 15:20
Companheiro Lino.
Estive fora do País pelo que só agora vi o teu comentário .
O Silva, de facto, está quase na mesma.Um pouco mais gordo, não há dúvida.
Lamentávelmente. o Inácio Oliveira a quem te referes já faleceu há uns anos.
Sobre o alferes julgo que estás a referir-te ao Alf.Quelhas que comandava o 3º Grupo.
Vai dizendo qualquer coisa.
Um abraço
João Dâmaso


De j.correia lino a 16 de Junho de 2009 às 17:11
Camarada Dâmaso muito boa tarde....
Realmente soube que o Inacio tinha falecido, pois houve um homem da vossa companhia que me mandou um mail dos Estados Unidos a contar-me que ele o Inacio já não estava entre nós. Eu estive com a 9ª de Moçambique durante o curso deles , fazendo "serviço" e fui eu que fui buscar de coluna os futuros graduados dessa companhia a Porto Amelia, juntamente com o Stélio, um furriel da 5ª de Moçambique. Permaneci no Batalhão para dar curso à 10 ª daí o meu conhecimento com o Inacio,Silva,Quelhas e parece que havia outro Furriel de nome William.O Inacio tinha um irmão de nome Nelson que esteve na Nona ou na Décima.
A propósito ...de que morreu o Inacio ?
Um abraço ao Silva que já nem sei se lembra de mim.
Eu tinha casa à saída da porta de armas do CIC em Montepuez , mesmo em frente à quina da Vedação onde estava o Sentinela.
Um abraço
Jose correia lino


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